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Nutrição enteral precoce

Dr. Celso Cukier

Desnutrição é relacionada com aumento da mortalidade e morbidade hospitalar (Torosian 1999). Maior suscetibilidade a infecções, perda de massa muscular, piora resposta imune e aumento de complicações pós-operatórias dificultam o sucesso do tratamento clínico. Estes fatos repercutem diretamente no tempo de internação e custos hospitalares do paciente.
Quando iniciada em até 72 horas da internação, a nutrição enteral pode ser denominada nutrição enteral precoce (Cerra 1988, Heyland 1994, Cheever 1999, Minard, 2000).
Dificuldades para administração da dieta enteral em pacientes críticos, principalmente no período inicial da internação, são referidas. Bengmark e col. observaram menor motilidade do sistema digestório após trauma ou cirurgia, especialmente no estômago e cólon.
A NEP oferece efeitos benéficos ao organismo e à evolução clínica. Promove melhora da imunidade intestinal (Heyland 1993, Shulkin 1993, Barbineau 1994, Kemen 1995, Senkal 1997, Bengmark 2001), previne translocação bacteriana (Monteferrante 1999, Bengmark 2001), mantém trofismo e evita atrofia do tecido intestinal (Cole 1999), reduz incidência de complicações infecciosas (Cole 1999, MacLaren 2000, Bengmark 2001), melhora o balanço nitrogenado, diminui permanência hospitalar e otimiza custos (Cole 1999).
Moore e colaboradores (early feeding) mostraram por meio de metanálise, que pacientes que receberam nutrição enteral precoce tiveram menor número de complicações sépticas quando comparados aos que receberam nutrição parenteral. Em estudo prospectivo, randomizado, duplo-cego de pacientes com câncer submetidos à cirurgia abdominal e que receberam NEP foi observado menor número de complicações infecciosas e melhor cicatrização da ferida operatória. Neste estudo o tempo de internação foi reduzido em seis dias quando comparado com a nutrição enteral tardia (Daly 1995).
Na mesma linha de pesquisa, Senkal e colaboradores (1997) observaram que pacientes alimentados com NEP associada a nutrientes com característica imunomoduladora tiveram menor incidência de infecção e complicações na ferida operatória.
Hasse e colaboradores (1995) em estudo prospectivo, randomizado, em pacientes com transplante de fígado que receberam NEP observaram menor morbidade. Bauer e col. (2000) em estudo prospectivo, duplo-cego e randomizado em pacientes críticos observaram melhor absorção de nutrientes comparando NEP e nutrição parenteral e encontraram redução de morbidade no grupo NEP.
Em estudo realizado por nosso grupo, no Hospital Geral de Pedreira, em São Paulo (SUS), pacientes que receberam NEP apresentaram menor tempo de internação (13 X 23 dias). Tal fato corrobora com o estudo multicêntrico de Neumayer e col. (2001), realizado em oito hospitais, no qual foi observado menor tempo de permanência hospitalar (11,9 X 14,8 dias) e custo hospitalar nos pacientes que receberam NEP quando comparados à NET ($34,602 X $38,578).
Daly (1995) em estudo prospectivo, randomizado e duplo-cego com 60 pacientes com câncer de trato gastrointestinal (TGI) superior submetidos à cirurgia abdominal que receberam NEP no pós-operatório apresentaram permanência hospitalar reduzida em seis dias.
Senkal e colaboradores (1997) relataram 32% de redução de custo no tratamento de pacientes portadores de câncer de tubo digestório alto, submetidos à cirurgia e recebendo NEP. Cole (1999) em estudo retrospectivo observou redução do custo hospitalar em pacientes críticos recebendo NEP.
Diante dos estudos apresentados podemos concluir que a NEP deve ser instituída assim que as condições clínicas permitam. Cuidados com adequação da oferta calórico-protéica, evitando-se a supernutrição, são fundamentais para o sucesso da terapia nutricional.

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